sábado, 31 de janeiro de 2009

Conexão Lapa-Taras Bulba
(in "o que nos move é a paixão")

São Paulo não é uma cidade cujas maravilhas estão à mostra. O Rio é: com seu oceano atlântico despudorado lambendo a vista por onde quer que você passe. Só encontrei maravilhas por aqui na verticalidade abissal da alma paulistana – e tive que ralar um bocado para encontrá-las, pois não ia passar os próximos “?” anos da minha vida em um lugar pelo qual não estivesse apaixonada. E apaixonei-me: pelas pessoas, pelo ritmo aceleradíssimo, pelo trabalho, pelo estudo matador, pela correria tresloucada, pela Avenida Paulista, pela Sé, pela ZL, pela horda dos “no destiny”, pelo ente workaholic que dá as cartas, pela “Augusta Pussy Market”, pela diversidade psycho yuppie, pela fantasia que vestimos no dia-a-dia, pelos loucos manicomiais que andam desgovernados pelas ruas, pelo sotaque (!), pelo “Brasil” que a megalópole megalomaníaca sintetiza tão bem – enfim, nada que meu espírito também gipsy e antropologicamente investigador não estivesse ávido por encontrar. É claro que há coisas notadamente paulistanas que eu continuo não aturando. Tipo: gel no cabelo, cordão de prata e “wannabes” . Venero a autenticidade, seja lá o que isso for. Mas, no geral, adoro mudanças e sou incapaz de viver sem elas.

Só que dia desses dei mole: estava no Rio. Enquanto caminhava por dois de seus mais batidos cartões postais (Copa e Ipanema), falava mal da morosidade e da malandragem do carioca, do calor insuperável e insuportável, da violência, do Bope, da Rede Globo e suas celebridades patéticas, do ar de província que ainda ali impera e por aí vai. Entrei numa de virar paulistana e vestir a camisa, sabe? (Eu sou uma piadista...) Só que não contava que fosse esbarrar em um recém-chegado tão apaixonado pelo Rio: o Hütz, que de fato se mudou de mala e cuia para o Brasil e acredita que a Lapa é o lugar mais sensacional e espetacular da face da terra. Vindo dele, não tenho dúvidas. O cara está encantado. Encontrou seu lugar ao sol: na vida noturna que só termina ao amanhecer, na bagunça em parte saudável do povo, na quadra da Mangueira, na vibração porra-loka cotidiana, no salve-se quem puder (!) e sobretudo no clima de "festa" que parece pairar sobre a urbe - emanando um calor que ele chama de "intenso" e produtivo. É até bonito ver a paixão reverberante que move o sujeito por inteiro, instaurando-lhe um despertar prenhe de vida, de sexo, de música, de modo certeiro para onde quer que ele alce vôo – seja para o mainstream da música pop, seja para o Carnaval de Olinda. Um perfeito carioca, sem tirar nem pôr. Perfeito. Fiquei admirada e pus minha desesperança com relação a cidade (e ao país) ao lado da esperança sorridente e um tanto mística dele. Um amor. Uma distância crítica necessária para que possamos rever o brilho de uma pérola que já nos parece fosca. Um "gringo" enfeitiçado que nos obriga, de modo implacabilíssimo, a olhar a paisagem sob uma perspectiva menos embaçada pelo tédio do day-after-day. Rio e Sampa fizeram as pazes. Na verdade, nunca brigaram. Na verdade, nunca existiram. No mundo, só existem pessoas – só. E nada melhor do que vê-las apaixonadas, em contato estreito com o objeto de sua paixão (outras pessoas), tendo como pano de fundo um belo cenário e celebrando a vida no que ela tem de mais vasto. Amemos à moda de Dostoiévski! Porque uma nova paixão não significa o ocaso da anterior; assim como a morte não invalida a vida – mesmo por que esta é concebida ao som de uma trilha sonora singular.

Andrei, eu, Eugene e Pedro (Faltou o Dani "boi piranha" Ribas!...)

Um comentário:

Anônimo disse...

Aiii Luu esse cara é louco como vc...rs

Seus textos são ótimo... adorei.
Bjos