Atlântica... Adoro.
(Música salina)
"Ilusão. Não há nudez. Agora, o meu corpo é minha roupa; e minha pele, um tecido. Musselina enquanto morta, carpetado quando hirto. Perambulando pelas atmosferas se recria, transborda o eixo que se multiplica de um pé a outro, percebendo que, só ali, pode ver a malha a se tocar, címbalos sobre a casca do mamilo, espatifando-se do terraço em que me aninho feito um pássaro. Acaricio cada poro, cada desvio de meu fulcro, criado, celebrado, bêbado. Testemunho a dissolução momentânea das neuroses: azul vira branco; amarelo é quase preto. Soma de preto no branco, tudo acizentado e sem cor, menos dinâmico do que fora, fiel a seus papeis na sociedade, real. É ela, a menina trôpega quem sobe, não se pode ver os passos, mas se pode ouvir a sombra, um vulto cadavérico, uma cadela ressequida. Uma bola de simetria invejável comparece às bordas da retina, cabelos, fios jogados ao vento. A sombra decresce, agiganta-se novamente e, como num sonho, nota-se o que de fato emerge ao fim da escada: uma mulher de 20 anos. A bola, da qual há pouco lhes falei, não é barriga, é só imaginação, bestice de moça que engravida toda vez que vê um moço, toda vez que esquece a pi-lu-la – e espocam camisinhas. Não lembra de nada, o tesão a infantiliza, parece uma criança, mas, leviana e sonsa, chupa um pirulito. Engravidara? Gim. Era provável que estivesse louca, e paranóias perscrutavam seus miolos, achava-se muito mais prenha do que em verdade estava. O sangue sumira. Fora dar alento às crianças sem teto, às guerras entre os homens – o sangue secara de seu útero infértil. Procurava melhor opção do que sujar absorventes e, na pior das hipóteses, não era mais vermelho, e sim, negro como a noite."
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