segunda-feira, 2 de março de 2009

Da Rocinha ao Leblon e do Leblon à Tijuca



Existem poucas pessoas que vivem no mundo real. Uma delas, dentre essas poucas, é o Marcelo Yuka. Independente do que houve com ele (por duas vezes, como ficamos sabendo hoje), o cara sempre fez questão de permanecer neste lugar - e passou a sofrer na pele o corte da realidade quando ficou paraplégico. A luta pela vida, ou pela plenitude da vida, nos faz tangenciar de forma muito sincera a realidade e, por sua vez, perceber que esta pode ser tudo, menos egoísta. É, como já disse o Nei Lisboa, estar na "luta armada disfarçado de cantor". É exterminar o Thomas Edson Jr., como fez Grace em Dogville. É ver no outro nós mesmos e, dessa forma, saírmos do isolamento gerado pelo egocentrismo, que nos lança aos distantes alpes de lugar nenhum.
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Bom, eis a lição: se por um lado o sofrimento desloca boa parte da humanidade para a senda equivocada da armagura, onde todos os demais são culpados pela miséria daquele que sofre (auto-piedade é uma merda e, se o apocalipse existe, é para lá que ela está nos levando), por outro lado, através da experiência do sofrimento (ou da experiência da própria vida, puxa!) muitas pessoas abrem as cancelas do mundo real, que, embora não pareça, é de fato o melhor e mais solene dos mundos: o mundo em que estamos e, sobretudo, o mundo que, sem muito chororô, devemos lutar para que se torne cada vez melhor.

O mundo da fantasia
(denegrindo de vez a imagem das "patys" cariocas...)

Tive um exemplo bem claro de pessoas que vivem no encantado mundo do delírio neste domingo, quando fiz uma caminhada com alguns grandes amigos para a Pedra Bonita, em São Conrado. Até aí, tudo bem. Quando retornamos, entretanto, havia duas meninas (que eu tinha acabado de conhecer) que queriam ir à praia. Tudo ótimo! E eu disse: "Vamos?". E uma delas disse: "Aqui???". E eu: "Claro, qual é o problema? São Conrado é uma praia tão bonita...". E ela: "Você não sabe??? O problema é que é uma praia super mal frequentada: desce geral da Rocinha para vir aqui". E eu disse: "Sério???". Enfim, as gurias partiram de ônibus para o Leblon e eu permaneci por ali, um tanto intolerante, esperando por pessoas que "pensam" e que já pularam faz tempo do pedestal da esteira rolante. Acabei indo para São Conrado, claro. O curioso da história é que as meninas eram da Tijuca e, na verdade, o mesmo preconceito que elas demonstravam contra a galera da Rocinha elas iriam notar no olhar irônico dos moradores do Leblon, que acreditam, por sua vez, que tijucano é suburbano. Enfim, como disse o Dani Ribas, foi uma justiça poética digna dos equinos. Às vezes, o mundo fica de fato "cronicamente inviável". E já que o Yuka é tijucano, e admiravelmente se recusa a sair do bairro, que ele seja também um baluarte do mundo real por aquelas bandas de lá.
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PS: Descobri que não são as mulheres propriamente que são de Marte. São as patricinhas. Meninas, parem de malhar os glúteos e voltem ao planeta Terra!!! Aliás, em vez de filhos, as mulheres daqui a pouco vão começar a parir glúteos - ou, quem sabe, culotes. Eu, confesso, já malhei muito os glúteos - mas parei. Agora só corro...

Um comentário:

Daniel Russell Ribas disse...

Gostei. bem encadeado e divertido. Tudo de bom, DRR