domingo, 19 de abril de 2009

Dependência química e sindrome do pânico na Rússia do século XIX...

... por que Anna Karenina não passava de uma junkie viciada em morfina...

A pós-hiper-modernidade reclama para si a invenção de alguns dos muitos transtornos mentais que assolam principalmente a população urbana e, nesse sentido, a correria frenética pelas drogas (ou fármacos) que esse ambiente "opressivo" demanda ao ser humano, como calmantes tarja preta ou anti-depressivos. Uma leitura mais detida de alguns romances russos do século XIX, entretanto, especialmente os dos chamados escritores realistas, como Tolstói ou Dostoiévski, nos mostram que na São Petersburgo gogoliana, cheia de narizes, capotes espectrais e homens-coisa, utilizar medicamentos "controlados" para insônia e depressão ou ter ataques de pânico eram coisas relativamente comuns. Dostoiévski, que já sofria de epilepsia, denominava suas crises de ansiedade de "Terror Místico", tendo relegado a muitos de seus personagens essa condição. Já Tolstói, que mantinha uma relação doentia com a esposa paranóica na vida real, fez da louca Anna Karenina uma junkie viciada em morfina - pobrezinha, prestes a se atirar sobre os trilhos do trem, ela não conseguia pregar o olho sem algumas doses de seu frasco semi-suicida.


Dostoiévski descreve um ataque de "terror místico", ou do que hoje chamamos de "síndrome do pânico" no romance "Humilhados e Ofendidos", de meados do séc. XIX:


"(...) eu ia caindo pouco a pouco nessa disposição especial de espírito em que me encontro tão frequentemente à noite desde que estou doente - disposição que eu chamarei de "terror místico". É o dolorosíssimo receio de qualquer coisa que eu não saberia precisar, de algo fantástico e irreal, que não existe na ordem das coisas, mas que parece surgir diante de mim e ganhar corpo num instante, com a irrefutabilidade de um fato terminante, horrível, informe, implacável. Esse pânico vai crescendo sempre, apesar de todos os meus apelos à serenidade e à razão, de sorte que, no fim, embora meu espírito tenha atingido um grau maior de lucidez, perde toda a faculdade de se opor a essa sensação (...)".


Tolstói não dá trégua para a doce e linda Anna - e coloca sobre sua mesinha de cabeceira um remedinho à base de um opiáceo que ameniza (ou potencializa, vai saber...) sua fúria nervosa:


"(...) Entretanto Anna, de regresso ao seu quarto de toucador, pegou num copo em que deitou umas gotas de medicamento cujo principal ingrediente era a morfina. Depois de beber esse líquido, permaneceu imóvel durante algum tempo e dirigiu-se ao quarto com o espírito tranquilo e alegre (...)".

Greta Chapada :-)

Um comentário:

disse...

Bem legal teu blog. Tô vendo que vc gosta do Nick Cave. Semanas atrás dediquei um post a banda paralela dele de rock/blues, chamada Grinderman. Digita o nome da banda na caixa de busca na opção "neste blog" do meu endereço que vc acha o post sobre a banda. Bjs.