domingo, 26 de julho de 2009

Ele reproduzia, sem o saber, todos os males que acreditava odiar...

O único mal da sociedade capitalista, essa que fingimos odiar, porque é legal gostar de Marx e Che Guevara, é transformar o ser humano em coisa. Todas as relações grotescas que essa sociedade que fingimos odiar produz e, com a ajuda de todos os seus membros, reproduz ad infinitum, culminam na porca da desumanização.

Então lembrei daquela história. A do sujeito, a do homem, ouso dizer, que foi, a princípio, muito gentil com Mariana por que queria usá-la como remédio para curar algumas feridas adquiridas no hiato da solidão. Como lá pelas tantas, a coisa, a Mariana, não serviu a contento, ele, claro, a jogou no lixo, como cartela vazia que era. Só que ele não sabia, pobrezinho: Mariana não era uma coisa, Mariana era um ser humano. Só que ele não sabia, pobrezinho: Mariana era, sim, tão ser humano quanto ele. Só que ele não sabia, pobrezinho: que, ao tratar as pessoas como coisas, ao tratar Mariana como coisa, ele reproduzia toda a dinâmica social (capitalista, cretina, individualista, desumana) que julgava odiar e lutar na direção contrária. Eram nesses “pequeninos” gestos, mais do que em qualquer outro tipo de ação – Mariana pensava depois, sentindo-se infeliz por acreditar no homem – que o homem, ouso dizer, abastece toda a engrenagem que finge odiar, transformando pessoas em coisas consumíveis ao inserí-las na lógica do capital. Afinal de contas, nessa sociedade que amamos odiar, tudo é (não é?) produto, coisa, consumo, superfície, função, troca, lixo – a começar (e a acabar) nas relações humanas. Só que ele não sabia, pobrezinho, tão preocupado que estava com o próprio umbigo, de nada disso.

Ocupe e resista Mariana. Continue acreditando no ser humano. Eu também acredito...

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