quarta-feira, 12 de agosto de 2009

Em Lilia 4-ever, Lukas Moodysson atenta para a urgente necessidade de amor ao próximo***

Logo nas primeiras cenas você pode pensar que Lilia 4-ever se trata apenas de mais uma versão (dessa vez russo-sueca) de filmes sobre adolescentes desajustados que se consomem nas drogas e na marginalidade. Mas não se engane. Não é nada disso. Lukas Moodysson quer muito mais do que mostrar uma geração perdida entre a falência do comunismo soviético, a periferia de uma cidade grande e a inevitabilidade de um capitalismo selvagem, cujo desdobramento é o valor ecônomico imputado a tudo que nos cerca, sendo, nesse rastro, a América o último refúgio propagandista da tal bonança - ou o "paraíso" na terra. O que o diretor sueco almeja é, sem dúvida, a eternidade inscrita no título - ao revelar de que modo, dentro desse processo da pós-hiper-supra-modernidade, o homem ocultou por completo qualquer menção verdadeiramente humana que tamborile dentro de si. E - sem apontar culpados pelo que quer que seja -, é um homem horroroso, perverso e estranhamente comum com o qual nos defrontamos em cena. Uma velha tia. Uma mãe sonhadora. Um jovem cafetão. Uma operadora de caixa de mercado. Um sujeito que, ao passar com fones de ouvido no último volume, se recusa a ouvir o som do descalabro. Você e eu. A humanidade é, assim, através de inúmeros personagens, posta pelo avesso em nome de um "aceitável" egoísmo intensificado pelos cacoetes de uma metrópole fria e cinzenta. É, portanto, a face mais horripilante do homem, este que está a seu lado, este com o qual você toma um chá, este para o qual você dá "bom dia", que Moodysson traz à baila. E, de quebra, denuncia como o poder de cada gesto nosso (sim, nosso), seja irrefletido ou muito bem pensado, pode estar fomentando uma rede de desamor que começa em um olhar de indiferença ou hostilidade e termina no assassinato (ou suicídio) brutal de uma criança.

Para ver, rever e agir. E nem precisamos ir tão longe.


***in micro-resenhas de filmes que não passam.

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