No inferno, trabalho como jornalista. No céu, ainda não tenho uma atividade certa. E saio pela cidade de vez em quando, dobrando-me às esquinas, até que com todas elas enfeixadas às minhas ancas, espiraladas ao meu tornozelo, possa, enfim, tropeçar e estabacar-me (!) - ou, melhor, erguer a blusa voluntariosa e louca como quem levanta uma bandeira e mostra a todos o resultado de tamanha efervescência: a inscrição que trago tatuada abaixo dos meus seios, rígidos e nodulados, cancerosos talvez, no volteio sob a cloaca: não estou disponível para o pernoite. É vero. Depoisssssssss, tento relaxar e, quando percebo, rodopio lívida qual um carretel do qual se puxa a linha, sabe? Neste caso, entretanto, linhas são como ruas, avenidas, retas, mares que, galgando pelo cabo das esquinas, pelas ondas, pelo anzol que vara os séculos, arrolei ao meu corpo flagelado e nu. Muito embora, como mencionei outrora, não vai rolar. Na verdade, não agora, que me sinto fula da vida. Que não me sinto. Que... sinto muito. Sinto tanto que chega a doer.
No fim, é preciso comprar-se. Como foi, como era e como sempre vai ser. É preciso comprar-se. É?... É preciso comprar-se - e não vender-se - todo mês.
4 comentários:
Adorei Luiza! é preciso comprar-se e não vender-se... Que grande verdade!! Obrigada pelos seus ecritos :)
Ops! De nada... Quem és tu? bjs!... :-)
Texto forte, complexo e simples ao mesmo tempo; e muito poético;;;
Parabéns, querida!
Harlemmmmmmmmmm! Eu quero um logo do selo pra colocar aqui no meu blog!!! super beijo!
Postar um comentário