Na vida, se não for alho cru, tudo faz mal, tudo é uma merda, tudo é potencialmente fatal. É por isso que o Tolsta, cara esperto que viveu quase um século, era radical: não ouvia música. É... não lhe fazia bem aos ânimos. Tolsta, aliás, durante um bom tempo (cujo esvair-se, por sinal, é das maiores tragédias da existência) fez apologia à morte. E sem rodeios. Quem leu a “Sonata” sabe disso. Dizia que a morte seria a salvação e fim último da humanidade – simplesmente arredar o pé da vida, de preferência casto, sóbrio e em jujum. Achava bem pior, inclusive, a morte em vida do que a morte propriamente dita. E o que era a “morte em vida” para Tolsta? Basta ler qualquer livro dele para saber, já que este era, acredito, o leitmotiv de toda obra do autor. Muito vasto, né?... De qualquer forma, se é que era mesmo adepto de algo que não de si mesmo (!), Tolsta prezava a morte natural, a vida natural, o bom selvagem, a anti-carnificina, o mujique, o campo, a resistência pacífica – e não os tonéis de sangue e lágrimas que verteram por ocasião da II Guerra, sob a égide, sobretudo, de Hitler e Stalin (Putz... nem o Stalin merece um Hitler ao encalço dele, mas...). E é nesse agitado cenário, descrito por Antony Beevor no ótimo “Stalingrado – o Cerco Fatal”, presente do meu querido Ricardone, que nosso
super Tolsta figura para um faniquito póstumo na presença de um bando de nazistas немецкий, aos quais, mesmo sem querer, deu guarita:
“(...) Por iniciativa própria, Guderian e Kluge começaram a retirar seus regimentos mais expostos. O primeiro tomou a decisão instalado na casa de Iasnaia Poliana, de Tolstói, com a sepultura do grande escritor no terreno defronte coberta de neve. Perguntavam-se o que ia acontecer em seguida ao longo de toda a frente central. Os profundos salientes alemães de cada lado de Moscou eram vulneráveis, mas o desespero e a escassez das tropas com que haviam estado lutando os convenceram de que também o inimigo fora arrasado e imobilizado. Jamais imaginaram que a liderança soviética estava arregimentando novos exércitos em segredo atrás de Moscou.”
Tolsta não quis comentar o intertexto. Mesmo por que, anarquista que é, não acredita na propriedade e muito menos em restos mortais. Eu, entretanto, juro ter visto ele resmungar qualquer coisa cabisbaixo (!).
Tolsta faria tudo para reviver aqueles dias plácidos em Iasnaia em que proseava com seu melhor amigo: o pangaré Kholtomer.
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