segunda-feira, 9 de novembro de 2009

Naquele dia, já era noite

Naquele dia, já era noite. Ela vinha tropeçando em cacos de pensamento: refugos de uma longa refrega. Bifurcou coisitudes que, ademais, não lhe serviriam de droga nenhuma. Algumas delas tomaram o rumo do texto ao lado, que emergia em paralelo, reclamando autoria distinta e escrito por um ghostwriter legítimo, desses que pululam aos montes em SP. Adentrou o apartamento com a sua cota de sandices, devidamente cotejada com o original em russo, sem nem suspeitar que já estivesse grávida há 20 dias, que um bisneto da Cândida nasceria dentro em pouco, que a toalha estava molhada sobre a cama – despencou do oitavo andar de suas idéias direto para o colchão. Sentiu estalar duas lágrimas uma noutra na escuridão da pálpebra fechada. Pálido cansaço de não ir a lugar nenhum, de desejar além do seu o querer alheio, “todos juntos e de mãos dadas, atadas”, o querer alheio pleno de dignidade e compostura: bondade. Pessoas perdem tudo que têm de “pessoa” por causa de míseros R$ 100. Que verdade limítrofe em torno da qual sofrer e chutar toda e qualquer esperança no que quer que seja o ser. Não há escolha. Hamlet, para ela, soou como um risível desvario nefelibata.

Tristes trópicos – agora em outra pegada. Como diz a Zazie: “Meu cú” – o que, apesar de lacônico, significa: meu cú é bem mais limpo do que essa imundície toda.

Continua aqui.

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