segunda-feira, 2 de novembro de 2009

O twitter e a legitimidade do ser via publicização virtual

Foi-se o tempo em que apenas os fatos jornalísticos precisavam ser publicados para "ocorrerem" ou para terem qualquer (des)importância. Chegamos à era virtual e, nesta arena 3x4, o indivíduo, para existir, precisa estar conectado, precisa ter o aval dos outros, precisa ter um séquito que o siga para onde ele for, precisa ser visto, precisa dizer gracinhas e provocar risos. Como se não bastasse, cada ato isolado do indivíduo, seja uma flatulência seja uma descoberta arqueológica, para ter qualquer legitimidade, para virar história e memória nesse cubículo amplo, implica um post no twitter, no facebook, no orkut ou, enfim, nessas tranqueiras. Se o mundo, para você, são aplausos virtuais ecoantes, comentários e curtição em fotos, algumas palavrinhas bicudas nas entrelinhas, lembre-se que, se for viajar, deve levar a câmera - ou então, para o resto da humanidade você não foi a lugar nenhum. O que importa, afinal, é a visibilidade que tens. Eis o quão sem graça se tornou o espaço público.

Show de Truman? Balela!... Hoje todo mundo tem seu show particular e ele começa com @.
Da mesma forma, você não precisa entrar em um buraco negro para ser John Malkovich - entre no twitter e seja quem você quiser.

A legitimidade do ser, hoje, passa pela publicização do ser na internet. Chegaremos a um ponto em que cada pessoa terá uma câmera acoplada a seus olhos filmando a própria vida full-time. Vamos editar e postar esse filmete no fim do dia no twitter-eye - ou, melhor, ele será transmitido ao vivo, já que sem esse olho não "seremos mais nada". Nada? De súbito, isso soa atraente. Nem Habermas, ao dissertar sobre o espaço público inerentemente burguês, nem Orwell, na obra-prima 1984, nem ninguém, ora pois, poderia imaginar tamanha tragédia. Acho que o Andy, aliás, foi o único que acertou na mosca - também, era pop.

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