- Precisaríamos de uma ambição embolada de ponta-cabeça – nada que nos fizesse retroceder, mas que nos obrigasse a ceder ao tédio de não querer tudo para si, em silêncio galhofeiro, mallllllllll, como quem agradece simples e naturalmente por estar vivo, por não ter caído hoje do precipício. Difícil isso. Lembro-me daquela moça que, ilhada, discutia comigo. Punha, à guisa da revista Veja, muito popular no Brasil, todos os adeptos de regimes ditos totalitários no mesmo saco (Che, Prestes, Fidel, Hitler e Stalin, tanto faz) – e depois suplicava por qualquer bem genuíno que se desdobrava no afamado "individualismo neoliberal", essa lei do pós-guerra que nos atola no supermarket punk. E - concatenei tentando seguir o raciocínio dela - o individualismo desses homens no saco, ora bolas? Por que hão de ser todos iguais? Pensar é difícil, pensar demora, pensar, não raro, é abdicar de qualquer opinião, é, no bilhar, não encaçapar nenhuma bola. É dom, é perda, é humilhação - desapego e comunhão. Dizem que a fé é dom de Deus. Dios. Dieu. God. Бог.
- A razão também – bombardeia o conde. O resto é reprodução. Arte, guria, é criação.
Lembrei de Nietzsche, que disse: “pensar é criar”. Enfim, outro péla-saco-mor pro panteão olimpiano do intelecto. Tolsta não me ouve mais. Tolsta não me ouve nunca, aliás. Conversa com Johannes, o sem-teto alemão – agora sim, um legítimo юродивый.
Encontro histórico: Os юродивый Tolsta e Johannes deixaram-se fotografar em plena Praça da Sé - marco zero de Sampa City. O calor de novembro não os impediu de vestir seus capotes, botas, bigodes e parangolés, o que corrobora minha tese de que ambos estão completamente alheios ao que se passa no mundo. Devem achar que estão na Rússia! Hahaha! Ou pior: em Iasnaia Poliana! Hahaha! Imagina!!! Loucos de pedra!... Detalhe: a foto foi envelhecida no photoshop - essa parte eu não pesquei.
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