domingo, 14 de dezembro de 2008

Le Trou - O FILME


Todo mundo tem aquela obra-prima perolada, um amorzinho cálido, que conheceu ali pelos 20 e poucos anos (ou menos) e que guarda como um milagre dentro de si, sendo que, de tempos em tempos, revisita. Um momento perfeito. Não raro, encontramos pessoas com quem compartilhar essas minúcias, essas músicas, esses filmes, esses livros, que não só tornam nossa vida mais prenhe de sentido, mas, de certa forma, lhe dá um ritmo, o tom, nos apresenta sem concessões a nós mesmos. Eu tenho uma jóia em minha cinemateca (ou tinha, emprestei!) e, por incrível que pareça, ainda não encontrei alguém nesse eixo rio-sampa que tenha se deparado com ela. Veja só: e cinéfilos não faltam ao meu redor! Trata-se de Le Trou (1960), principal e último filme de Jacques Becker, diretor que teve uma passagem tímida pelo cinema francês pré nouvelle vague e é mais conhecido hoje por ter sido assistente de Jean Renoir. Sinopses como a de Le Trou, sem dúvida, existem aos montes por aí: uma prisão. Uma fuga. E é isso. O que importa, mais uma vez, não é a história ou seu desfecho, mas a forma quase minimalista, embora ao mesmo tempo tensa e realista com que Becker desenha cada passo, cada entreolhar, cada "toc" emitido em cena - e transcende. É impossível não ser nocauteado por uma noção de humanidade sem paralelos, bem como ficar refestelado no ringue, sem ação, por muito mais do que 10 segundos. Do elenco soberbo, conquistaram-me para sempre Jean Keraudy e o charmosérrimo Philippe Leroy. Sim, um tesouro.

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