Talvez a arte – a arte genuína e arrebatadora – não admita rótulos. Quando alcança a esfera do sublime, da “música” sonora, viva, etérea, salina, que tudo transcende independente do gênero, ela remove de si os grilhões que o homem lhe impõe por uma necessidade de formatar camadas fluidas de percepção. Sucata de poemas. É quando ansiamos domesticar o indomável, silenciar a folia diante do sorriso da criança de três anos. Neste ponto, tanto faz se é teatro, literatura, dança, música, pintura, cinema ou outra coisa qualquer. Pois estamos nos referindo a algo que é como o vento, o eterno, o próprio amor trazido à tona, traduzido em signos pelo avesso – e nada disso pode ser enclausurado: adubamos a terra com o seixo do impossível não-mineral. E, nesse rastro – o rastro do impossível – no qual se reúnem as verdadeiras obras-primas, não subsistem mais quaisquer categorias. Linguagens são dilaceradas e pátrias arruinadas. Partituras decodificadas e idiomas rasurados. Em um leito, um risco, um traço de grito, um vasto horizonte, infinito e finito, onde léguas de humanidade foram percorridas a pé, calcanhares trôpegos, encontram-se os rebentos perolados dos artistas. Estão todos em um mesmo “lugar” no tempo e no espaço, próximo e remoto, tangível e intangível, palpitando de forma singular o coração embasbacado do amante – o espectador, o leitor, a platéia. É quando a arte é propriamente uma avalanche de amor – e por isso, visível – parida em um rompante de alucinação, rebatizada. Por outro lado, aqueles que com os sentidos a dissecam são seus devotados amantes. São raras essas formas de amor – essas que se desvencilham de gêneros, categorias, grupos, preferências e pulsam ali, todas juntas, enfim irmanadas, em um espaço alheio a fronteiras e prenhe de liberdade: o céu. Eis a necessidade da arte.
terça-feira, 20 de janeiro de 2009
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