quarta-feira, 20 de maio de 2009

Bureaufóbica

São Paulo é um baita escritório a céu aberto, desgovernado por leis civilizadas em desuso, onde tudo, basicamente, é trabalho, cafezinho e burrocracia - eu, particularmente, prefiro o binômio que sintetizou minha estadia desde então: correria-balada. Na verdade, preciso voltar para casa (home sweet home!), já passa das 22 horas. Casa? Vai dormir no escritório, chuchu. Sério: não se pode fazer porra nenhuma por aqui. Um dia quis fazer porra nenhuma e me dei mal: fiquei sem opção, já que é preciso sempre fazer qualquer coisa, mendigar atenção, produzir matéria pautável, entorpercer-se cultural ou etilicamente, transvestir-se de capacidade oral-fálica. Sinto falta daquele nada obeso, desbotado e esparramado tipicamente carioca que madrugava pelo ar. Ecos de O Retorno fundem minha cuca. Sem dúvida: um dos filmes mais prenhes de sentido que já vi e ouvi. Que motivos, afinal, levam alguém a comprar um óculos de dois mil reais? Os mesmos que levam alguém a comprar um de duzentos ou um de vinte no camelot. Não coloquem a culpa na Daslu. A lógica é a mesma: a do consumo voluntário consciente. Fudeu. Não acredito em inconsciente, em Freud, enfim, essas baboseiras redentoras do sujeito ativo. Preocupo-me com o que eu seria se eu não fosse quem eu sou. Discursos incoerentes rondam por aí aos borbotões - a começar pelo meu. Infelizmente, o ente "compra-compra" é quem dá as cartas nesta urbe sacal. Pacman, sacolas sacolejantes e só. É preciso fazer algo com o dinheiro que se ganha, né, meu? Ser. Sumir. Sonhar. Ou seremos interpelados por um odioso "para quê"? O que é uma merda belíssima e sem tamanho. Vide o Johannes. Vide o Miguel. No caminho até a cama, milhares de pessoas te bombardeaim com tudo quanto é tipo de produto inflamável: de solos de guitarra (como vi hoje na Paulista) à filosofia Hare... Triste é o trabalho infantil. Até quando vão permitir que crianças sejam expostas à piedade alheia? A cidade grande brasileira abriga a maior concentração de trabalho infantil do planeta. Crianças como instrumento de dor inflingida em seu coração yuppie maternal. Negligência. Como denunciar? A quem culpar? Já não há culpados... Eu quero ir para casa. Cansei. Casa? There's no place for us, baby. Ask Johannes. Ask the dust. I need to sleep. J'ai sommeil. Odeio o francês. Prefiro os russos. Amo loucamente os russos. Morrer em um duelo é muito punk. Existe, afinal, um liame espectral que conecta Puchkin (Deus) à musa Patti Smith. Um Cavalo de Bronze a Horses. Um mar de possibilidades a uma inundação em São Petersburgo. Johnny a Ievguieni. Mas isso é sublime e eu vou deixar para depois. Go Rimbaud! Carros só servem para engarrafar, causar acidentes e tolir o atleta nato: você. E, por aqui, já nos deparamos com os mártires da bike. Regressamos, veja só, à invenção da roda. E tudo que se propaga aos quatro ventos via descolados de plantão é como a descoberta (tardia) da pólvora. Talvez o mar em sua presença irrefutável e soberana nos confira um sentido de humildade que, no fim, é imprescindível. Não somos nada - ou porra nenhuma. Boa noite, amado. Escrevi demais - nada que preste. Des-leia.


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