"Esta casa cheia de luminárias, que amarela o olhar só de focalizar os corpos e os relevos, fingindo ser um imenso astro da manhã, não é minha. Essa casa pertence a alguns de meus amigos. Possui uma bela janela que conduz a uma ainda mais exuberante paisagem do dia, cuja composição se faz de mares e horizontes que trafegam. Fico aqui entre o sofá e alguém que me entoa lamúrias que mal ouço, e mecanicamente respondo, não correspondendo a nada do que um dia interpretei. É sutil, mas muitos deles se assustam - e mesmo eu me assusto - quando assumo e compreendo de vez o estado de espirito que me leva em definitivo para além desse amarelo-caqui-pastel dos arredores, para o refratário campo no supra-teto no qual reside uma bússola, para um mundo de cores vivas que prefigura a ilha - agora percebo, é um ilha - que suporta a lua no mar estrelado do firmamento. É para onde devo ir.
Por vezes, sinto que deveria retornar. Que deveria retornar rumo ao que deixei em celibato e casto em renovadas noites a partir dessa, andando de frente para trás, no sentido anti-horário. Daí, se hoje estou aqui onde estou, era só retroceder um pouco ou mais nesse tempo sem relógio e atingir a linha de largada, de onde jamais deveria ter saído. Lá está uma grande porção de mim, uns 55% sem cálculo, à minha espera na matina na qual me despedi à luz de uma lua rosada, sob a promessa de um dia, após ter resolvido todas essas picuinhas do pessear, do navegar e do estremecer, voltar de mãos repletas para onde o meu pensamento invariavelmente decola: à outra metade de mim.
Mas isso são bobagens.
O fato é que não sei mais, desde então, o caminho que volta.
Não saber o caminho de volta talvez seja um dos maiores problemas da minha amargurada vida. As setas nas estradas, há muito, perderam a sua imobilidade, girando insensatamente, indicando saídas multiplicadas e subtraídas por todas as direções do possível.
O impossível.
Pensava que talvez devesse tentar o caminho do impossível, a vereda periclitante do improvável, o insubstituível pavor pelo que não é mais conhecido ou catalogado: pois é a única alternativa que me restou. É por aí que devo guiar os meus passos".
Bobagens, bobagens, bobagens.
sexta-feira, 29 de maio de 2009
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