domingo, 10 de maio de 2009

Uma nota iconoclasta sobre o mito Grigori Iefimovitch Rasputin

"Se quiseres, meu caro, te nomearei ministro. Por
que ris? Por acaso pensa que eu não posso fazer o que digo?
Oh, eu posso tudo, eu faço tudo aquilo que quero. Todos me obedecem. Vais ver: farei de ti um
ministro".

Eu acredito que...

Rasputin era só um produto aberrativo de uma sociedade que vivia de forma muito intensa, austera e, nesse sentido, por vezes equivocada, a religião que lhe dava contornos. O que esperar de um povo que “devia” acreditar que o Czar, por exemplo, aquele mesmo Czar que punha vinagre em suas feridas, era um enviado de Deus? Não. Rasputin não era louco, não era mau, mago, charlatão, ocultista, satanista, vidente ou bobo da corte. Era só um mujique siberiano simples, forte, viril, provavelmente encantador em sua simplicidade e inteligência persuasiva e despudorada, que usava o instrumento ideológico que tinha nas mãos (o cristianismo), no qual depositava uma fé autêntica, a seu bel prazer. E prazer, até onde eu sei, sempre foi sinônimo de pecado. Eis o maior deles: a luxúria. Já era, inclusive, um camponês (e, portanto, um “proletário”) que havia astuciosamente alçado ao grau mais alto do poder ao se tornar o principal conselheiro de Nicolau II – tendo sido assassinado apenas em função disso. Ou seja, um proletário (porque não?) a tomar o poder antes de 1917. Um feito, sem dúvida. Yussupov, um principezinho com cara de bunda, não aceitava que esse “czar acima do czar”, que mandava e desmandava no destino da família imperial, era pacifista e ainda por cima comia a mulherada, fosse um camponês e, portanto, pertencesse a uma classe inferior. Então, envenenou-o e matou-o em um episódio dos mais grotescos, já que o cianureto que havia nos bombons e no vinho não fez qualquer efeito no corpo do stariets e uma bala só não o derrubou. Depois, o dandy do Yussupov ganhou fama em cima disso.

No mais, vamos combinar: não devia ser mesmo difícil engabelar aquele bando de almofadinhas. Quanto ao trágico fim dos Romanov ou de qualquer ser humano, eu sigo acreditando que não há revolução alguma ou sistema “científico” que justifique o assassinato de crianças. Muito longe de ser o ideal...



A ortodoxia criou outras aberrações nesse sentido, como o Conde Liev Tolstói, que também tinha lá sua vertente rasputinesca que a razão extravagante não o deixava liberar. Fundou a corrente filosófica chamada de tolstoismo – através da qual foi auto-proclamado um apóstolo de Cristo. Gogol foi outro que pirou ao fim da vida por causa dos desígnios divinos ortodoxos e acabou cometendo suicídio. Aqui no Brasil já teve muito maluco desse tipo também, só que, apesar de terem tentado, nunca chegaram ao poder. Ou não. Não sei. Por incrível que pareça, dos grandes escritores russos do séc. XIX (o que é mais a minha área), só salvava o Dostoiévski. Esse, do início ao fim, a despeito de tudo que passou (epilepsia, 10 anos de prisão, fuzilamento encenado e o escambal), e seus romances estão aí para comprovar, sempre foi um sujeito são e equilibrado. Um gênio incomparável e inspirador.

Enfim, Rasputin era gente boa.

Para ler:

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