sábado, 11 de julho de 2009

debandada de chimps, vida e milagre

É possível que nada disso faça o menor sentido. Não faz, ora pois, нет. Mas fez, ali (... ...), de repente, e qualquer hiato luminoso em mim se delineou (O), quando avistei manadas trôpegas de búfalos e elefantes-gados em plena savana africana: sedentos, enlameados, aproximando-se, enfim, do leito do rio que irrigando o solo no bojo da aridez perene tudo (tudo!) inundou. Levava consigo cardumes, antílopes, aves, crocodilos, devastando a morte ao sabor de ramalhetes de lírios de cujas pétalas saltavam rãs pintadas à mão deficiente ou gramíneas que, esguias, perfuravam o liso tapete d'água. Debandada de chimps, vida e milagre.

Bufalada: manada de búfalos na plácida savana africana.

Até onde eu sei, a razão, essa coisa que nos difere dos animais, e a qual tanto apreço devotamos, é também o que nos confere a capacidade de escolha. O tal do livre arbítrio. No entanto, pensava cá comigo: "Sob um determinado prisma, a razão nos torna pior do que os animais, uma vez que passamos a negar irresponsavelmente o que nos é natural e, por sua vez, naturalizamos, encantados, o artificial". Daí, quando o natural que há muito desnaturalizamos (mas que é o real e, portanto, o que existe) nos surpreende no cotidiano, não sabemos com ele lidar ou dialogar. Simplesmente não o suportamos. Ele nos soa estrangeiro, alheio, caro, irreal. Eis que, por exemplo, nos intercepta a morte, a mais natural das contingências da vida. A partir do momento em que forjamos o luto (leito) no qual ela deságua, obviamente sem o saber, imperializamos o ego, centralizamos o eu, destronamos o outro e, nesse arcabouço asfixiante, os habitantes da savana já não podem pressentir a vida que se achega em desbunde e sem alarde. Silente. Perdemos, assim, o faro dos elefantes, dos búfalos, das gazelas, regredindo a uma razão "divina" e ingrata, alheia ao manancial dos arredores que, miraculosamente, tão logo a seca vingue, apruma-se no deserto.

A natureza inventada racionalmente, de acordo com leis sobretudo científicas, humanas, atrofia nosso olhar de lince e converte em traumas inefáveis o que a outros seres é o comum - visto que inseridos no contexto de suas comunidades. Naturalizar processos equivocados (egocêntricos) pode render ao homem fraturas irreparáveis - e fatais. Não por que redundam na morte, mas por que deslocalizam-na, bem como a incontáveis outros elementos de um curso genuíno, normal. A seca, não raro, faz parte do bem viver.

Não é só a nível da baleia que golpeamos o natural. É, sobretudo, no perímetro cotidiano, urbano - esse que a duras penas nos suporta.

O passo dos elefantinhos... 1, 2, 3, devagarinho quase parando. Um vai cheirando o rabo do outro que, inevitavelmente, fede. :-)

PS: Isso não tem absolutamente nada a ver com Rousseau ou com qualquer corrente ambientalista ecochata. Eu tava vendo Discovery Channel da janela aqui de casa...

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