"Chove lá fora
E aqui tá tanto frio
Me dá vontade de saber...
Aonde está você?
Me telefona
Me Chama! Me Chama!
Me Chama!...
Nem sempre se vê
Lágrima no escuro
Lágrima no escuro
Lágrima!...
Tá tudo cinza sem você
Tá tão vazio
E a noite fica
Sem porque...
Aonde está você?
Me telefona
Me Chama! Me Chama!
Me Chama..."
Fui lá ontem. Quando entrei, elas me receberam como se eu fosse alguém muito especial – e de fato era, já que todos somos, ora pois. Incrível perceber-se alguém muito especial nessa cidade torta. Diziam-se revolucionárias – e eram. Passei o dia inteirinho por lá, na ânsia de ouvir jazz, entre livros, metafísica e arrepios, do tipo: “Uma palavra vale mais do que mil imagens”. De fato, com imagens não podemos pensar no que quer que seja, só imaginar. O que é ótimo; embora em dias como esses, de descalabro nu, seja preciso pensar, refletir, raciocinar e agir. De resto, também deglutia, alheia a engasgos, aquele bando de histórias que me aturdiam embaladas feito vagões de locomotiva e adentravam afoitas, em looping, em minha boca caudalosa, salivante, esgueirando-se pelo esôfago e assentando-se no estômago, no bojo de pavores e bolores gástricos eslavos. O almoço ainda me escapulia em pílulas de arroto: bafos. No prumo da assepsia – algo terrível. Algo que eu, naturalmente e sem perceber, disfarçava. Sentia-me no meu lugar – e acabei encontrando uma edição portuguesa de um raríssimo exemplar do Turgueniev. Amo. Pensei em tantas pessoas que amo, aliás – e o quão longe e próximas elas podem estar de mim a um só tempo e espaço. Abismos que se desfazem em um piscar de olhos quando – e especialmente – este estilete que trazemos a reboque e a contragosto cessa repentinamente de circunscrever sulcos ao nosso redor ou de machucar aqueles que não somos. Contudo, já de volta a casa, o cio de meados do mês provocou-me sonhos eróticos, verdadeiros pesadelos, concedendo-me, de presente, um encontro com o avesso do menino. Merda. Não entendi quando ela disse que deveria tolerar. E me deixar mutilar? Não. Algo pertubador – e, por ora, já nem quero expor meus copiosos tropeços ou falar sobre nada disso. Prefiro continuar por lá, semeando conceitos, ao encalço de um homem formidável que, dentre outras coisas, perguntou-me se estava tranqüila enquanto palestrava pela enésima vez a respeito da história de minha terceira vida – não a última, espero, mas a mais deslumbrante e orgíaca, consciente de seus prazeres infames e de sua beleza divina. Pedi para sair depois que me ofereceram companhia e um jantar perfumado. Alguém ia tocar piano. Havia, em uma esquina pouco visível, uma balalaica também. Alice e Carrol. Pena... meu tempo de paraíso havia se esgotado.
Holofotes tonitruantes espocam na sílaba. Bá. Algo mesmo como um “bá” gaúcho. Sorry – Des-leia.
domingo, 23 de agosto de 2009
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