terça-feira, 29 de setembro de 2009

Carta ao ET



Querido ET,

Como vai aí arriba (ou aí abajo, dependendo do point of view)? Por aqui você já sabe, né? Tá tudo uma merda. Só o desamor constrói – montoeiras de lixo, rios de espuma branca, miséria raquítica, invisible people, cultura vagaba, cinismo sensual, e por aí vai a perder de vista ad infinitum muito além de qualquer horizonte cinzento – como a CNN intergaláctica já deve ter divulgado. No entanto, há uma série de aforismos que, pairando sobre a tigela, conformam a massa, né, fofo? Coisas do tipo “O passado será sempre melhor”, “The show must go on” ou “Deus ajuda a quem cedo madruga”. E os humilhados e ofendidos? Vixe, Nossa Senhora, estes terão o reino dos céus. Terão sim, mas, antes, acho que esse show já anda mal das pernas e precisa dar uma paradinha. E a arte? No que se transformou a auto-proclamada (por uma horda de piadistas burgueses) e divinizada arte? Bloquinhos de gelo derretendo em Paris? Ah, faça-me o favor. Intervenções cômicas ao lado do banco anti-mendigos – eu diria. Certos surtos freudianos de introspecção alienada deveriam, por ora, ser categoricamente proibidos (Ah, inconsciente tem limite!) – mas aí é fazer como fez Stalin, né, o que já provou ser ineficaz. Então não chama de arte, poxa! Aqui reclamar não é nada cool, ET. Soa ultrapassado, antiquado, retrógado. Sinto falta daquele clima vermelhão de marte. Vermelho-sangue: adoro! Os terráqueos não cultivam muito respeito pelo verde ou pelo azul, por exemplo, e não me admira que você não queira mais pisar por aqui . Sabe ET, acho que a humanidade nem vive mais um retrocesso, vive um retrocídio, movendo-se para trás sem nem dar uma olhadinha pelo espelho retrovisor. E, ao que tudo indica nesse chamado retrocídio, já estamos na Idade Média, exatamente no filme do Bergman, já que tudo no sétimo selo é, de fato, sétima arte. No mais, sinto que a essência humana, essa que nunca se soube direito o que era, mas acerca da qual, com efeito, havia indícios palpáveis, volatilizou-se de vez. De concreto, só o marketing. E a vida, veja você, reside na idéia (ou no pseudo-pilar) de que é preciso “vender-se” para ser. É vendendo, portanto, que podemos comprar. Comprar o que? Nossa liberdade... de consumo (Uebaaaaaaaaa! Adorno rules!). Só – já que, infelizmente, só essa liberdade fake nos cabe. Tenha você acumulada a fortuna que tiver, tanto mais enganado é pela roda que o escraviza. Liberdade (o que você acha, ET?), na verdade, é desvencilhar-se disso tudo (não sou nada original, Platão disse algo semelhante). Camadas de marketing puro, à exceção dos enfants, há muito, ocultam la vérité – liberté, egalité, fraternité. Ideais sobrevivem apenas como pruridos no mamiloUUUUUUU – é o que parece. Depois passa.

Vou ficando por aqui, ET. Já escrevi muita besteira. Se escrever mais a Gannibal não me deixa postar no blog dela, sabe? Vai dizer que eu ando lendo muito... Hmmmmmmmmm.

Espero que não demore uma eternidade para pintar por aqui. Estamos sentindo sua falta. Suas aparições são tão divertidas!!! Muito melhor que arte pós-moderna! Apareça, viu!

Lembranças do Planeta Terra!
Inté
@nostálgica.

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