sábado, 3 de outubro de 2009

Quando o Tolsta veio me visitar!!! (2)

(Tolsta indo passear no Ibira pela manhã. Péla.)

Quem é o Tolsta? Gaúcho, mujique, apóstolo de cristo, retirante nordestino, anarquista, tarado, sadhu indiano, tuareg, profeta, monge ou, como todos os russos, um louco? Hmmmmm... Ah, já ia me esquecendo: escritor também é uma opção dentre tantas.

hhhh
Moramos no 12º andar, eu e Tolsta, no centro da cidade. São “Inferno de Dante” Paulo. Ele odeia pavorosamente essa turbina de concreto-vândalo que apita sem ressalvas o dia inteiro e quer ir para o campo – ou para qualquer destino feudal onde possa caminhar algumas verstas sobre um extenso e bucólico gramado. Eu, impaciente com sua lista interminável de reclamações, aconselho-o a ir dar um passeio no Ibira, na Aclimação ou no Parque Villa Lobos e não me atazanar o saco com esse papo Ctrl-C Ctrl-V de Rousseau. Poupe-me, bom selvagem.
- Second Life, Tolsta... – repreendo-o.
Mas ele ignora. Não entendeu ainda como nós, humanos do século XXI, podemos ter algo tal qual uma vida virtual.
- Não podemos, não podemos. É pura fantasia. Contextualize, poxa. É como na Bíblia. Ou você acredita em Adão e Eva?
- Niet – ele solta.
Tolstói é algo descrente. Não acredita em nada que, de relance e num vasto prado, não possa fitar, tocar, curar, abastecer com seu viço aristocrático dissimulado e bronco. De retidão apaixonada, queria ser padre, mas me pergunta, sem pestanejar, onde é o lupanar. “Não sei... mesmo” – respondo encabulada. Ele desconversa, diz que só queria saber se há algo do tipo nas redondezas e, quando eu digo que a cidade inteira é um grande bordel, um “Gogol Bordello”, um “American Bar”, que muita gente nem cobra pelo pernoite, ele murmura entredentes: “Diabólico, diabólico. Preciso andar mais por aí”. E fico matutando o que seria dele se fosse ao Love Story vestido daquele jeito e com os sobrolhos a meio. (Des)penso o impensável.
- Para que serve a razão? – ele me indaga de soslaio.

“O universo nada delicado da libido”, persuade-me Tolsta, “é bulímico e anoréxico – é um veleiro sob tormenta, é catastrófico, truculento e trágico, uma foda-relâmpago que tudo parece iluminar e subverter com seu gorjeio para, em seguida, apagar-se”.
Não refreio meu ímpeto de mulherzinha, já violentada por essa corja de canalhas, no bojo de Lilia 4-ever, no âmago de Grace, enfeixada por Suely, e metralho:
- A cabeça de baixo venceu Tolsta. Seus apelos à castidade e ao uso da razão não adiantaram muito. É sob a égide do pau, do falo, do pênis, do cacete, do alfarrábio masculino, que vivemos. E o mundo é uma rede de cabeças acéfalas interligadas de forma cruel. E, claro, um retardado querendo ejacular mais do que o outro. Poucas pessoas fogem a essa regra desumana. É tudo porra. É tudo porra...
Tolsta, entretanto, acredita que eu tenha descrito um procedimento científico e, fulo da vida, retalha:
- Oh, eu odeio médicos. Não me venha com essa conversa mole, guria.
Não entendo que tipo de parentesco o Tolsta tem com os gaúchos. Vira e meche ele solta uma bá, um guria, adora um chimarron, diz que lembra o chá feito no samovar. Enfim, isso me intriga sobremaneira.

2 comentários:

Gustavo disse...

bela prosa, guria.
inda bem que sou mineiro.
O Toslta eu 'credito que não esteve por aqui. Mas o Zara, O Tustra, andou andando por essas nossas sinuosas montanhas, cheias de ésse-ésse.
Mande notícias da San-Pablo-del-Diablo.
Besos y abrazos,

Gustavo
das Minas Gerais
= pão de quejo e cafezim, uai.

Luiza Gannibal disse...

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bj
Lu